quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A INTOLERÂNCIA MODERNA


Recentemente, um vídeo amador captado por um vizinho registrou fatal agressão a um pequeno cão YorkShire, cometida por uma enfermeira de 22 anos, no estado de Goiás. Sabem qual a justificativa pelo ato? O cachorro era por demais travesso a ponto de ser torturado e assassinado.
            A jovem enfermeira cometeu violência grave a um animal por quem deveria zelar e cuidar. Tudo isso na frente de uma criança a quem foi transmitida mensagem que problemas banais como travessuras de um cãozinho devem ser resolvidos através de violência.
            Tenho lido bastante, ultimamente, a respeito de História Medieval, por pura curiosidade e me espanta perceber como a intolerância dos inquisidores ainda está presente de forma evidente em pleno terceiro milênio. Uma colisão de veículos que deveria ser resolvida através de diálogo, presença policial e acordo é motivo  de discórdia e agressão, em pleno espaço público.
            Certa vez, fui abordado no centro de BH por um estranho tentando enfiar-me goela abaixo sua religião (como se fosse a única possível e existente). Ao perceber que eu não compartilhava com seu pensamento, estufou as veias da testa, avermelhou-se e por pouco não tentou me agredir em nome de Deus.
            Um motorista de ônibus, não faz muito tempo, foi cruelmente assassinado porque perdeu a direção do veículo e provocou um acidente. Populares entraram no ônibus, desferindo socos, pontapés e pedradas na vítima. Posteriormente, laudo pericial certificou que o motorista perdeu a direção por ter desmaiado segundos antes.
            Voltando ao caso do cachorrinho, após o vídeo ter sido divulgado e disponibilizado na internet, revoltosos usuários de diversos sites de relacionamento multiplicavam-se exigindo o linchamento e até tortura e assassinato da enfermeira, ou seja, violência sendo resolvida e punida através do mesmo e bárbaro erro (a violência); como se não estivéssemos em um momento e local onde a educação formal vem sendo fartamente ofertada à população, assim como diversos princípios éticos e morais (divulgados na mídia, igrejas, etc).
            Querendo ou não, somos todos formadores de opinião e toda vez que nos manifestamos a favor da brutalidade, ensinamos o mesmo a dezenas de outras pessoas. Ou nos tornamos mais tolerantes com as diferenças (sexuais, religiosas, partidárias, esportivas, etc) e deixemos os crimes serem julgados pelo próprio judiciário, contribuindo com um mundo mais justo, ameno, democrático e plural ou continuaremos a presenciar resoluções de conflitos mínimos através das mais ácidas agressões.
Giuliano Santos

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